Após 1 ano de trabalho à tempo parcial no CHUM (Centro Hospitalar da Universidade de Montréal) como auxiliar de limpeza, fui "promovida" à auxiliar de enfermagem.
Em primeiro lugar, gostaria de voltar ao meu primeiro dia de trabalho na limpeza (em junho do ano passado!). Estava muito angustiada, não sabia o que me esperava, tinha medo de ser um trabalho muito pesado, de ter que levantar muito peso e de não conseguir chegar nem no final do dia. E ainda tinha aquele impacto, tipo eu sou dentista, tantos anos de formação, pra mudar de pais e ir limpar hospital! O peso do julgamento dos outros e até do meu próprio tem muita influencia, massss eu tento nunca sair da perspectiva maior, da visão de fora do contexto e de principios de valor e humildade em aprender sempre.
Pra minha surpresa, tive três dias de orientação prática no hospital, isto é, ia trabalhar mas sempre tinha um preceptor me ensinando cada etapa da limpeza de um quarto normal de paciente, de um quarto em isolamento, de como usar a toalhinha, o vassourão seco, a mop (aquele vassorão molhado), os produtos pra cada tipo de limpeza!!! Nuuuunca imaginei que tinha tanta técnica pra cada coisinha ... Recebi uma apostila explicando as minhas tarefas e os produtos ...e aprendi muito com muita gente lá dentro.
Então, durante esse 1 ano trabalhei sobre disponiblidade, isto quer dizer que ia trabalhar qdo eles precisavam (as minhas disponibilidades eram sexta a noite e fins de semana). Infelizmente, tive que trocar os dias de encontro do grupo de oração pelo trabalho na sexta a noite, mas isso faz parte das escolhas da vida... e como elas são difíceis! O grupo de oração me fez e anda faz muita falta...
Trabalhar me abriu novos horizontes, conheci um mundo q não tinha a menor idéia lá dentro do hospital, gente diferente com suas estórias de vida que dá até um livro (e desse livro eu faço parte)! Recebi ajuda sempre que precisei... O Centro hospitalar é composto de 3 hospitais e tive a oportunidade de conhecer um pouco de cada um pelos bastidores da limpeza... vc parece meio invisível, as pessoas simplesmente passam e enquanto isso eu observo. Durante esse tempo eu quase nunca repeti o mesmo setor, então conheci desde o bloco operatorio, UTI, urgencia, queimados, psiquiatria (kkkk nesse dia eu tive medo!), cardiologia... setor de pesquisa cientifica (enorme!!!!), setor de mecanica (onde se concertam todos os equipamentos do hospital), lavanderia, banco de sangue, consultorios, cozinha, fisioterapia, terapia ocupational, ginasio de esportes, piscina, maquina gigantesca esmagadora de lixo (tenho medo dela! rsrsrs), informatica..... Cada dia um novo lugar, um novo companheiro de trabalho, e váriaaaas novas estórias... Muitos ja me conheciam como "la petite brésilienne" rsrsrs e de vez em quando pediam pra eu contar minha estória, minha vida... e eu já emendava pra descobrir o desafio dos outros tb.
Aqui é muito normal e até valorisado o trabalho feito desde cedo (quase todas minhas coleguinhas do Cegep tb trabalham em périodo parcial). Trabalho com muitos outros estudantes (psicologia, direito, artes, enfermagem...), com muitos quebecas e muitos imigrantes (principalmente latinos, africanos e arabes). Algumas pessoas tem esse trabalho como secundário, pra complementar a renda... Então, conheci artistas plásticos (viver de arte não paga as contas...), grafistas (seriam webdesigners se tivessem evoluido junto com a informatica mas ficaram só com a parte artistica), estudantes, etc.
Esses foram meus objetos de trabalho nas ultimas sextas-feira desse ano... Tiveram dias mais tranquilos onde eu conseguia terminar mais cedo e até estudar um pouquinho depois... mas tiveram dias que foram "faca na caveira" afffff que eu sai só o trapo do hospital (ninguém merece fazer desinfecção em quarto de isolamento!).
Finalmente, no meu último dia de trabalho escutei meu chefe me elogiando pra outros funcionarios (ele não sabia q era meu ultimo dia na limpeza) e outras pessoas que vieram ao meu encontro (sem saberem q era meu último dia!) falar que tinham admiração, bla-bla-bla... ( ??? pq tudo isso exatamente no ultimo dia e sem ninguém saber???) entendi como mensagem de incentivo e luz divina... fiquei mesmo comovida como essas mensagens chegam até nós de maneira tão despretenciosa e se mostram como sopro de esperança.
E agora começo um novo ciclo: préposée aux bénéficiaires ( auxiliar aos beneficiarios- auxiliar de enfermagem). Sei que vai ser bem dificil, pois vou trabalhar nesse verão fazendo atividades digamos "exigentes"... trocar fraldas, dar banho, reposicionar paciente, alimentar... mas vai me ajudar no meu "nursing care" e na compreensão da necessidade de cada pessoa. Bom, assim espero...
Inté a proxima ...
3 comentários:
Cada trabalho tem seu valor intrínseco! Que bom o tempo de Seminário quando fazíamos limpeza: vassoura, rodo, pó de serragem de madeira para não levantar poeira, tudo feito com alegria e doação do idealista de 14, 15 e 16 anos!
No concerto maravilhoso da vida tudo tem sentido. Se apequenamos uma atividade, se nossa alma é pequena, as coisas ficam difíceis e sem sentido. Minha benção, meu estímulo; vergonhoso é nada fazer ou fazer sem amor, sem o brilho nos olhos dos que se entregam ao derrotismo. O que merece ser feito, merece ser bem feito! Zebezerra
Quel, adoro os comentários de Lya Luft: "Para viver de verdade, pensando e repensando a existência,para que ela valha a pena, é preciso ser amado e amar-se.Ter esperança; qualquer esperança. Questionar o que nos é imposto sem rebeldias insensatas, mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom,mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter,aceiter sem se humilhar,entregar-se sem renunciar a si mesmo e a possível dignidade. Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena.Escapar na liberdade do pensamento...E que o mínimo que a gente faça seja,a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer." Ma.Regina
Olha, vcs são meu exemplo, incentivo, em cada gesto e em cada palavra! Obrigada por compartilharem a existencia e o amor de vcs conosco. Aaaammmmmo infinitamente!
Quel
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